quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Entrevista com Marcos Panassol


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A 5X Petróleo dessa semana é com o Líder da área de Oil & Gas da PwC (PricewaterhouseCoopers) no Brasil, Marcos Panassol. O executivo aborda as perspectivas para o setor em 2012, tratando de temas como leilões, mão de obra e investimentos estrangeiros no mercado nacional.
1X) Qual a sua projeção para o futuro do setor petrolífero no país, diante do cenário que se apresenta nesse início de 2012?
Em termos de produção, a Petrobras acabou ficando um pouco abaixo do plano, no ano passado, e a expectativa é de que tentem recuperar isso ao longo do ano, como principal produtor do país. Eles têm feito um discurso de que vão se recuperar e atingir as metas esse ano. Atingindo ou ficando bem próximo, não vejo nenhuma mudança significativa. A questão é o volume de investimentos que tem planejado - USD 224 bilhões de dólares nos próximos cinco anos. Mas agora, com a potencial mudança na administração, não sei como podem rever esse plano. De uma forma ou de outra, o volume de investimentos é muito grande e não só deles, mas de todos os parceiros e isso é que acaba tendo impacto na indústria do Brasil.
Eu gosto de analisar sempre duas coisas: a produção de óleo e gás, para acompanhar o crescimento do país e fornecer energia, mas tão importante quanto é o volume de investimentos que é feito, que acaba descendo por toda a cadeia de fornecedores de bens e serviços, e que têm um efeito enorme, de muito impacto na economia do país. Isso vai continuar. Mesmo com a crise na região do Oriente Médio, com a história do fechamento do estreito (de Ormuz), o investimento continua e acaba sendo mais viabilizado, porque tanto a Petrobras como as outras empresas internacionais com operação aqui – Shell, Chevron, BG, BP, Galp e assim por diante – buscam uma segurança fora daquela região, em um país em que esse risco não existe. Temos um aspecto positivo, de crescimento da produção da Petrobras e das outras empresas e mais ainda com o volume de investimentos. A OGX já começou oficialmente a produzir. Então, o ambiente é bastante favorável.
2X) No cenário global, a grande incerteza de momento é a tensão no Irã e as sanções ao petróleo iraniano, inclusive com o fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do óleo mundial. Na sua opinião, como isso pode afetar o mercado brasileiro?
Eu não consigo ver um impacto imediato. Nosso mercado, de uma forma ou de outra, mesmo que seja matemático, é autossuficiente. A gente produz, exporta um pouco, importa um pouco. Então, o impacto que se pode ter desse movimento é um aumento do preço do petróleo internacional, que é usado como benchmarkingaqui. Se olharmos nos últimos anos, vez por outra se tem um conflito, que gera impacto no preço, que acaba se estabilizando.
Então , não vejo grandes consequências, exceto por um impacto momentâneo no preço. No mais, acho que não altera nenhuma decisão de investimento no Brasil, pelo contrário, serve de incentivo para um eventual investimento que estivesse previsto para lá, vir para cá.
3X) Como o senhor vê a questão da ausência de leilões de novas áreas exploratórias no país? A atratividade de investimentos e a renovação do setor poderia ser potencializada com novas ofertas?
As empresas precisam de portfólio. Portfólio envelhece. O último leilão foi há muitos anos. Então, elas precisam ter novas áreas na carteira para continuar mantendo o ciclo de investimentos, de exploração e desenvolvimento. Então, é muito importante que tenhamos o leilão o mais breve possível. O mercado está otimista na realização desse leilão em breve, para que as empresas possam fazer essa oxigenação no portfólio. É importantíssimo que ele aconteça logo.
4X) Qual a sua expectativa para 2012, em relação aos movimentos de fusões e aquisições no setor petrolífero brasileiro e que fatores prometem impactar com mais força no segmento de negócios em óleo e gás?
Há duas questões que temos visto. Há empresas que, por conta da crise mundial, acabam fazendo uma reavaliação das suas estratégias, estrutura e do seu portfólio, e acabam tomando a decisão de sair de alguns mercados, até enventualmente aproveitar um bom momento num mercado emergente, para fazer caixa. Então, acabam disponibilizando ativos. E há empresas vindo de mercados emergentes que estão capitalizadas e querem aproveitar as oportunidades.
Há um caso público dos chineses que aproveitaram para comprar ativos da Galp no pré-sal. É típico. Se tem uma empresa de um país que está em crise, que é Portugal, e abre algumas partes do ativo e vêm os chineses , que estão supercapitalizados, e entraram comprando. Então, imagino que muitas situações como essa irão ocorrer. Há também oportunidades para empresas nacionais, para entrarem com farm-in em uma área e ganhar corpo para participar dos leilões. O mercado está interessante.
5X) Com relação à mão-de-obra, o quão crítico é este gargalo para o desenvolvimento do setor petrolífero nacional?
Me parece ser o mais crítico. Há uma série de iniciativas como Prominp, no setor da indústria, como o Sesi e Senai, desenvolvendo cursos de capacitação, mas acho que o país tem um gap de base. A maioria das atividades dessa indústria é de média para alta especialização, então temos uma questão quantitativa, sem dúvida falta gente, mas há uma questão qualitativa. Aqueles que estão chegando, têm uma dificuldade grande de serem capacitados para essas atividades.
Estamos falando de exploração, que é complexo, em plataformas, em terra, em refino, na produção de máquinas e equipamentos. Acho que esse assunto é crítico, é uma questão estrutural do país e tem que ser revista. Não existe país no mundo que cruzou a linha do desenvolvimento sem um investimento altíssimo em educação. Temos que investir rápido e forte em educação, em todos os níveis.

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