segunda-feira, 2 de abril de 2012

Entrevista com Marcelo Lima de Mendonça

A 5X Petróleo dessa semana é com o gerente Técnico e de Desenvolvimento da Gas Energy, Marcelo Lima de Mendonça. Responsável pela carteira de clientes industriais da área de gás natural da Gas Energy, o executivo falou sobre os potencias e os gargalos que o setor enfrente no Brasil e no exterior.
1) A Petrobras bateu novo recorde na entrega de gás natural ao mercado, em 2011, alcançando uma vazão anual de 37 milhões de metros cúbicos por dia de gás ofertado. A companhia divulgou também o aproveitamento do gás natural que é produzido junto com o petróleo nas plataformas da Petrobras, onde atingiu a marca recorde de 89,2%, em 2011. Quais os maiores gargalos do setor de Gás Natural no Brasil?

É verdade que nos últimos anos a Petrobras incrementou significativamente sua capacidade de produção, processamento e transporte de gás natural. A infraestrutura de transporte cresceu em cerca de 8%, como resultado principalmente dos vários programas de ampliação como Malhas e Plangás. Os aumentos concentraram-se principalmente na ampliação da comunicação entre os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro com a construção do gasoduto Campinas-Rio. Outro ponto importante da ampliação foi a ligação entre as malhas sudeste e nordeste com a construção do Gasene. Esse gasoduto permite principalmente que a produção excedente do Espírito Santo possa ser enviada para outros estados como RJ e BA.

A capacidade de processamento também foi expandida, com a instalação de novas UPGNs, como a Monteiro Lobato em SP e Sul Capixaba no Espírito Santo. No entanto, toda essa ampliação da infraestrutura de processamento e de transporte foi projetada para garantir o escoamento de volumes em torno de 86 Mm³/d, sem contar a produção esperada das reservas do Pré Sal, que segundo estimativas pode vir a alcançar em 2020 cerca de 75 Mm³/d adicionais. Em outras palavras, a malha de transporte e a capacidade de processamento atual do Brasil não têm capacidade de processar ou transportar todo o volume de gás adicional. Para o devido escoamento dessa produção serão necessários novos gasodutos e um aumento da capacidade de processamento. Sem falar da necessidade de ampliar as redes de distribuição, para que o gás possa chegar aos consumidores finais...

2) A Gas Energy realiza serviços de assessoria empresarial, abrangendo toda a cadeia produtiva do gás natural e do petróleo, passando pela indústria química e petroquímica. Quando e como vocês perceberam que esse mercado estava carente?
A Gas Energy foi criada em 2005 e naquela época o mercado de gás natural no Brasil estava apenas começando. Percebemos que não tinha muita expertise no país sobre gás natural. Consultorias estrangeiras atuavam no país, mas sem realmente conhecer a realidade local. Os sócios fundadores, Marco Tavares e Douglas Abreu, tinham uma longa experiência corporativa na indústria de gás natural e na indústria química e petroquímica. Foi natural atender esse segmento, que era, e ainda é, muito demandante de estudos e assessoria.

Hoje a Gas Energy atua em toda a cadeia do gás natural, como também nos mercados de petróleo, derivados, carvão e de produtos petroquímicos. Atualmente somos a maior empresa brasileira de consultoria especializada em gás natural, com foco no Brasil e em toda a América Latina. Nossos clientes abrangem toda a cadeia do gás, de produtores de petróleo e gás, nacionais e internacionais, passando por empresas transportadoras e distribuidoras de gás, até os consumidores finais. São nossos clientes as maiores empresas industriais do país que consomem gás ou querem expandir seu consumo de gás. Assessoramos também associações industriais e órgãos de governo, tanto federal como estaduais.

3) O presidente da Bolívia Evo Morales inaugurou semana passada as obras de ampliação do maior complexo de gás natural do país, San Antonio, cuja capacidade de produção passou de 15,4 para 22,1 milhões de metros cúbicos diários, o que permite assegurar a elevação da oferta prometida ao Brasil e à Argentina. Como está essa questão do fornecimento do Gás boliviano para o Brasil. Até quando seremos dependentes da Bolívia?

O contrato da Petrobras com a Bolívia vai até 2019, e contempla o suprimento de 30 milhões de m³/dia, com um Take or Pay anual de 80%. A partir de 2019, certamente já teremos uma produção significativa no Pré-Sal, a entrada de novos produtores tanto offshore e onshore, e seguramente haverá uma sobre oferta de gás. Com este cenário, seria possível deixarmos de importar gás boliviano, porém ainda há bastante incerteza acerca dos cronogramas de exploração e produção da Petrobras e dos novos produtores e da implantação da infraestrutura para o escoamento desta produção (gasodutos de transferência, gasodutos de transporte, UPGNs).

Por outro lado, ainda em uma grande parte do País, o gás boliviano é a melhor solução econômica para manter e ampliar o mercado. Por esses motivos, é muito provável que o contrato com a Bolívia seja prorrogado, possivelmente com uma renegociação das condições de preços e mais flexibilidade nos volumes. Acreditamos que conviveremos, sem dependência, ainda por bastante tempo com o gás boliviano. No entanto, para que o suprimento da Bolívia continue e seja confiável, é necessário que outros projetos sejam implantados no país vizinho, para compensar a declinação normal dos campos que já produzem a mais de 12 anos.
4) No final do ano passado, o presidente da HRT Oil, Márcio Mello, chegou a dizer que a Petrobras não é a única opção da empresa para escoar sua produção de gás na bacia do Solimões, mas também disse que nunca houve uma conversa entre as duas petrolíferas à respeito do assunto. O gasoduto da Petrobras é a única opção? Quais seriam as outras?
O gasoduto da Petrobras não é a única opção para escoar a produção da HRT. A Gas Energy realizou em 2010 um estudo para a HRT onde foram analisadas alternativas de escoamento para sua produção e também de mercados para sua monetização, que dependerão claramente dos recursos que vierem a ser comprovados. A lógica econômica indica que, naquela região, os produtores deveriam colaborar em infraestrutura já que os mercados finais pretendidos são claramente diferenciados.
De toda forma, outras formas de transportar gás foram estudadas e também recentemente, estamos indicando ao mercado uma nova tecnologia denominada de GNL LITE que possibilita a liquefação do gás natural em condições mais econômicas, com materiais mais comuns no mercado de gás e com forte redução no investimento.
5) O gás natural ainda é muito difícil e caro de transportar e armazenar (Gás e GNL) e, portanto, requer firmar contratos de transporte e contratos de venda (Take or Pay e entrega ou pagamento) de comprimento prazo 20 anos. Por que essa logística de transportes e armazenamento ainda saem caro? O gasoduto ainda é caro para os padrões brasileiros?

O transporte e a armazenagem do gás natural são, no mundo inteiro, mais caros que o transporte e a armazenagem dos combustíveis líquidos e sólidos. O transporte de gás, por gasoduto ou sob a forma de GNL, requer altos investimentos em infraestrutura fixa, que requer largos períodos para recuperação do capital. Por isso são comuns contratos de compra e venda de longo prazo. No caso do GNL tradicional, o gás deve ser mantido a uma temperatura de –160°C e pressão de 1 atmosfera, o que requer o uso de materiais especiais no transporte e na armazenagem do gás natural liquefeito. Por isso, o investimento é caro. O GNL Lite é uma nova tecnologia onde o gás natural é liquefeito a uma temperatura de –40°C e uma pressão de 100 bar. Nestas condições, é possível o uso de materiais mais comuns, reduzindo os investimentos.

No Brasil, os gasodutos são muito caros quando comparados aos custos internacionais. Este vai ser um desafio para ANP e EPE, que em decorrência do PEMAT serão responsáveis pela elaboração do gasoduto de referência, que será usado como base para as licitações dos novos projetos de gasodutos. Esta será a oportunidade para trazermos estes custos para uma realidade internacional.

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