sexta-feira, 9 de março de 2012

Entrevista Anabal Alves

Entrevista bastante interessante feita pela 5x Petróleo com Anabal Alves, falando sobre os produtores independentes. A entrevista foi feita há algum tempo, mas os assuntos continuam atuais. Confiram



A 5X Petróleo dessa semana é com Anabal Alves, diretor executivo da APPOM (Associação das Empresas de Petróleo e Gás Natural Extraídos de Campos Marginais do Brasil). Na entrevista, ele fala sobre a realidade da exploração de campos marginais no país.

1X O Brasil vive um momento em que o setor de petróleo está voltado para a exploração nas águas ultraprofundas do pré-sal. Diante dessa realidade, qual a situação atual das atividades relacionadas aos campos marginais no país e como se define esse tipo de campo?
Em realidade, a questão do pré-sal apenas agravou o quadro do mercado de campos marginais, pela sua relevância é natural que todas as atenções concentrem-se neste tema, paralisando de certa forma todos os outros assuntos do setor petrolífero. A continuidade das rodadas de licitações de campos marginais (a última ocorreu em 2006) e as dificuldades de comercialização da produção extraídas de campos marginais são itens de uma agenda de gargalos que nós da APPOM (Associação das Empresas de Petróleo e Gás Natural Extraídos de Campos Marginais do Brasil) colocamos na pauta desde 2007, e na qual o Brasil e especialmente as autoridades do setor, ainda não deram respostas.

De certa forma, se o Governo Federal quisesse, na discussão do pré-sal, poderia ter tido uma oportunidade para resolver a questão da continuidade dos leilões de campos marginais, segmento que foi criado baseado numa resolução do CNPE em 2005, que deliberou pelo fomento da criação da pequena e média empresa de petróleo. Mas, para surpresa de todos, o Executivo vetou uma emenda, aprovada pelo Congresso ao PL da capitalização da Petrobras que garantiria a devolução destes campos marginais terrestres por parte da estatal à ANP. Hoje há cerca de 150 campos que correspondem a menos de 0,5% (meio por cento) das reservas nacionais.

2X A APPOM foi criada com a finalidade de promover e defender a atividade de produção de petróleo e gás natural extraídos de campos marginais. Como essa missão pode ajudar no desenvolvimento de empresas petrolíferas locais e de pequeno e médio porte?
Esta é uma atividade muito recente no Brasil onde temos tudo por fazer. Na área legal, passa por ajustar a legislação ambiental, regulação do setor, etc. Temos também ainda dificuldades de aquisição de insumos e de mão de obra especializada e outras questões como comercialização da produção, financiamento adequado etc. Na APPOM, temos 3 comissões temáticas que atuam nestas questões: A Comissão para assuntos legais e regulatórios (CALER), a Comissão de Demandas Comuns (COMDECO) e o  grupo de comercialização (GRUCOM).

Posso citar como exemplos de resultado da atuação destas comissões: A contratação coletiva de uma sonda para atender exclusivamente aos associados da APPOM e a recente construção de uma solução para o problema da comercialização do petróleo através da viabilização da implantação de uma pequena refinaria privada na Bahia (Dax Oil) dado as dificuldades colocadas pela Petrobras para adquirir nosso óleo.

3X De que maneira a reabilitação de jazidas petrolíferas inativas e desprezadas por empresas de grande porte pode contribuir para o desenvolvimento da região onde esses campos se encontram, evitando o desperdício das riquezas naturais do país?
Eu diria que além de evitar o desperdício dos recursos naturais a maior contribuição é gerar oportunidade de emprego e renda numa região extremamente pobre e carente de alternativas econômicas para suas populações onde se localizam estes campos. São municípios de baixíssimos IDH, todos no último quartil do ranking nacional. Recentemente, o Prof. Doneivan Ferreira do IGEO da UFBA desenvolveu estudos onde demonstra os benefícios sócio-econômicos da reabilitação destes campos. Além disto, a própria ANP fez estudos que estimam que fossem gerados mais de 6.000 novos empregos e mais de R$ 600 milhões de novos investimentos.

4X Em 2005 e 2006, a ANP realizou os dois primeiros leilões de campos marginais. Qual foi a relevância dessa medida para os pequenos produtores e, hoje em dia, como a ANP trata a questão da exploração desses campos?
Estes leilões tiveram grande importância para viabilizar o surgimento das pequenas e médias empresas brasileiras produtoras de petróleo e despertou grande interesse do empresariado nacional. Os dois leilões (27 campos ofertados) contaram com a participação de mais de 150 empresas interessadas e das propostas vencedoras resultaram cerca de US$ 85 milhões de investimento privado, ficando ainda sem serem captados mais de US$ 100 milhões de investimento oferecidos nas propostas perdedoras.

Infelizmente, apesar do enorme esforço da ANP, a continuidade dos leilões de campos marginais depende de vontade política do Governo Federal, principal controlador da Petrobras, atual detentora das concessões dos campos marginais terrestres, que, apesar do grande desafio do pré-sal, insiste em não liberar estes campos de baixa produção. A ANP, e nós também, acreditamos que neste novo governo o Governo Federal cumprirá com o compromisso antigo que tem com todos os agentes deste nicho e resgatando assim esta dívida.

5X Recentemente, a ANP divulgou que irá assinar termos de compromisso com Petrobras e a Chevron para redução da queima de gás natural na Bacia de Campos, sinalizando a preocupação da agência com o tema. Como funciona a situação da queima, com relação à exploração em campos marginais de petróleo?
Esta é uma excelente pergunta. A queima de gás nos campos marginais operados pelas pequenas empresas nacionais é zero, justamente porque em empreendimentos de economicidade baixa não pode haver perdas sob pena de gerar prejuízos.  Utilizamos soluções de baixo custo que permitem re-injetar o gás ventilado no próprio poço, o que vai auxiliar e reduzir o consumo de energia na elevação do petróleo do fundo do poço até a superfície.

Alem disto, construímos soluções que viabilizaram a exploração de pequenas reservas de gás em áreas remotas, como a ilha de Itaparica na Bahia. Assim, dispensando altos investimentos em infraestrutura de escoamento do gás, a produção abastece uma pequena rede de postos de GNV, contribuindo para o abastecimento dos veículos da região e ao mesmo tempo reduzindo a emissão de CO2 nesta região ambientalmente sensível.

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