quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crise pode afetar também investimento em petróleo

O impacto da crise econômica global no setor de óleo e gás ainda é pouco visível no Brasil. As grandes empresas até agora mantiveram os investimentos planejados para este ano e os próximos. Mas essa situação poderá ser revertida por pelo menos dois fatores. O primeiro deles é o acirramento da crise europeia, com a saída da Grécia da zona do euro. O segundo, uma eventual queda dos investimentos da Petrobrás detalhados no plano de negócios 2012-2016, a ser tornado público até agosto.

Para o coordenador de Relações Externas do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Flávio Rodrigues, ainda é imperceptível a retração dos investimentos das companhias que atuam no País, já que os planejamentos da indústria costumam ser de longo prazo. 'O preço do barril de petróleo não está tendo muita flutuação. Ele é fator muito importante para a validação dos cenários. As projeções se mantêm, embora cada empresa tenha suas dificuldades', afirmou Rodrigues, para quem 'as grandes empresas, de modo geral, estão com caixa para investimentos'.

No relatório 'Perspectivas de Investimento na Indústria: 2012-2015', o BNDES aponta para a manutenção do crescimento dos investimentos acima do Produto Interno Bruto (PIB), com destaque para as atividades vinculadas à exploração de petróleo e gás natural na camada pré-sal.

Segundo o relatório, o segmento (responsável por 59% dos investimentos mapeados em toda a indústria brasileira), no período de 2012 a 2015, planeja investir R$ 354 bilhões em extração e refino. O montante representa 48,5% a mais que os R$ 238 bilhões que constavam de relatório similar do BNDES com as perspectivas do ciclo 2007-2010.

Essa previsão de gastos poderá ser afetada se a derrocada financeira na Europa agravar-se, avalia Eloy Fernández y Fernández, diretor-superintendente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip). Ele preferiu não fazer estimativas sobre o quanto o setor poderá vir a ser afetado. 'A cautela recomenda que a gente aguarde. Existem sinais de turbulência na economia. Em quanto vai atingir o setor, a gente não sabe dizer. O fato é que as companhias estão com os programas em andamento. O setor está pujante', disse Fernández y Fernández.

Uma das grandes expectativas da indústria de óleo e gás é a definição pela Petrobrás de seu novo plano de negócios. O plano em vigência (2011-2015) prevê investimentos de US$ 224,7 bilhões. O mercado vê com ceticismo a possibilidade desse valor aumentar muito, disseram ao Estado dois analistas que acompanham o setor diariamente, mas preferiram não formalizar entrevista.

Reforça a suspeita de que a Petrobrás poderá vir a conter os investimentos as declarações recentes de diretores, quando da apresentação do balanço financeiro do primeiro trimestre, de que a petroleira passará a investir no que for 'realizável'.

Ansiedade. As falas do diretor financeiro, Almir Barbassa, e do diretor de Exploração e Produção, José Formigli, estão sendo interpretadas como um prenúncio de que as metas poderão ser até menores, em razão da crise mundial e da necessidade de a Petrobrás cumprir de fato os investimentos traçados. 'Está todo mundo ansioso, aguardando pela revisão do plano de negócios da Petrobrás. Enquanto isso não se define, a gente deve aguardar', disse o diretor da Onip.

A Shell se antecipou ao comunicado da Petrobrás e anunciou ao Estado a intenção de manter o planejado para o País. Em resposta a questionário, a petroleira informa que 'considera o Brasil uma área estratégica e está interessada em continuar a investir e ampliar seu portfólio no País'.

'A empresa acredita que tem o conhecimento e a capacidade necessários, tanto financeiros quanto técnicos, para seguir contribuindo com o desenvolvimento das reservas de petróleo e gás do Brasil', informou a Shell, acrescentando que desde 1998 'investiu mais de US$ 3 bilhões em atividades de upstream' no País. Em todo o mundo, a companhia tem mantido os investimentos anuais em torno de US$ 30 bilhões. Não houve cortes motivados pela crise.

O diretor-geral da Maersk Oil no Brasil, Luis Paulo Costa, também fala em manutenção dos investimentos. Segundo ele, a crise não levou à revisão dos planos. A petroleira da Dinamarca participa de quatro blocos offshore e aguarda a definição de novas rodadas de licitação de áreas para expandir sua carteira.

'Só em 2011 investimos US$ 2,4 bilhões no País através da aquisição da SK do Brasil. E vamos investir mais. Este ano planejamos furar oito poços. Nossas perspectivas são de desenvolvimento das atividades em água profundas, independentemente da crise', disse o executivo.

Para a advogada Beth Ramos, da Ernst & Young Terco, o mercado brasileiro do petróleo tende a não ser tão afetado pelas complicações financeiras que atingem o mundo. Com 18 anos de experiência na Shell e no IBP, ela saúda com entusiasmo 'a muito grande quantidade de empresas estrangeiras vindo para o Brasil na área de suprimentos'.

'Acho que o setor não será tão afetado. O Brasil é uma nova fronteira. O mercado global tem muitas oportunidades aqui. Acredito que o movimento de reação virá a partir de agosto. O governo está mostrando maturidade ao oferecer às empresas, neste momento de crise, todos os indicativos de segurança, necessários ao investidor', disse.

A 11.ª rodada de licitação de blocos é esperada com ansiedade pelas empresas estrangeiras. A última rodada ocorreu em 2008. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já disse que o novo leilão só deverá ocorrer em 2013, o que frustrará os planos de investimentos das companhias. 'A falta de leilões tem efeitos ruins na cadeia produtiva', disse Rodrigues, do IBP. O diretor da Onip vai no mesmo tom. 'Isso é muito ruim pois desmobiliza e pode causar um gap de falta de encomendas. O leilão deveria ser realizado logo', opinou Fernández y Fernández.
O Estado de S. Paulo

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