A utilização do petróleo traz grandes riscos para o meio ambiente desde o
processo de extração, transporte, refino, até o consumo, com a produção
de gases que poluem a atmosfera. Os piores danos acontecem durante o
transporte de combustível, com vazamentos em grande escala de oleodutos e
navios petroleiros.
.O mais recente vazamento de petróleo com graves conseqüências ambientais
aconteceu no final de novembro, com o afundamento de um petroleiro na
costa da Espanha que transportava 77 mil toneladas de óleo combustível. O
acidente pode se tornar uma das maiores catástrofes ambientais da
história causadas por vazamento de óleo. O navio Prestige, das Bahamas,
afundou no dia 19 de novembro a 250 quilômetros da região da Galícia. O
vazamento de óleo já atingiu as praias e as encostas da Espanha. Segundo
as organizações ambientais, entre 10 a 15 mil pássaros foram afetados. No Brasil, os piores acidentes aconteceram em oleodutos da Petrobras, na
Baía de Guanabara e no Paraná.
Para o Greenpeace, o uso de combustíveis fósseis não renováveis sempre
oferecerá riscos para a natureza, como afirma John Butcher, da Campanha
de Substâncias Tóxicas do Greenpeace brasileiro. "O problema é muito
maior, a questão para evitar acidentes não se resume à manutenção e
fiscalização. Sempre haverá um risco contínuo com esses tanques enormes.
O problema é a matriz energética e o Greenpeace defende a substituição e
a eliminação gradual dos combustíveis fósseis por fontes renováveis
alternativas como a energia eólica, solar e a energia das marés", diz
Butcher.
Para minimizar os efeitos dos acidentes e vazamentos, existem várias
iniciativas governamentais no Brasil. A principal delas é a Recupetro
(Rede Cooperativa em Recuperação de Áreas Contaminadas por Atividades
Petrolíferas). Com a coordenação do Núcleo de Estudos Ambientais da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Recupetro reúne 13 Redes
Cooperativas de Pesquisa do Setor de Petróleo e Gás Natural nas Regiões
Norte e Nordeste financiadas pelo CT-Petro (veja texto), CNPq e a
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Ao todo, são 226 pesquisadores e cerca de 2,2 mil participantes
indiretos, a maioria atuando em universidades federais. A Recupetro
começou a se formar após o edital da Finep, em julho de 2001, convocando
grupos para a formação da rede. Os trabalhos de pesquisa começaram em
setembro.
O objetivo é contribuir com avanços tecnológicos para auxiliar nos
impactos ambientais causados pela atividade da indústria petrolífera.
Além disso, a rede se propõe a realizar a formação e capacitação de
recursos humanos especializados para gerenciar os problemas do meio
ambiente causados pelas atividades de exploração, produção, refino e
transporte de petróleo e seus derivados nas regiões do país onde
acontecem estas atividades.
A rede formada nas regiões Norte e Nordeste é oportuna, porque essas são
regiões grandes produtoras de petróleo e onde ocorrem desastres
ecológicos com certa freqüência. O coordenador da rede é o professor
Antônio Fernando Queiroz da UFBA. "Na Bahia, há vários derramamentos de
óleo nas regiões de produção de petróleo, como em São Francisco do
Conde", afirma Queiroz. Ele diz que cada um dos grupos desenvolve
trabalhos específicos, como por exemplo, pesquisas com microorganismos
para a limpeza de óleo despejado na natureza.
Um dos grupos que fazem parte da Recupetro é a Universidade Federal do
Ceará (UFC), através do Padetec (Parque de Desenvolvimento Tecnológico).
O pesquisador Afrânio Craveiro, do Padetec, coordena os estudos sobre
polímeros naturais, de quintina e quintosana, para a remoção de óleo do
mar. O projeto ainda está na fase laboratorial e consiste em produzir
fibras de carapaça de crustáceo para a absorção do petróleo despejado no
meio ambiente.
Quanto às possibilidades desse método ser usado em grandes acidentes
como o da Espanha, Afrânio Craveiro diz que, "sem dúvida, este é um caso
aplicável, mas no momento ainda não temos a produção de matéria prima,
estamos em uma fase piloto, que depois poderá ser produzida em escala
industrial".
A próxima etapa do projeto é produzir microorganismos para digerir o
óleo absorvido pelas fibras. Ele fica imobilizado nas fibras e não se
espalha no meio ambiente. Essa outra parte da pesquisa está sendo
desenvolvida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com a
coordenação da pesquisadora Maria do Carmo de Barros Pimentel.
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