quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vazamentos da Petrobras em 2010: o dobro do óleo derramado pela Chevron

Os vazamentos de petróleo no Brasil são mais comuns do que se pensa. Só a Petrobras, a maior empresa do setor, encerrou o ano passado poluindo mais e recebendo um grande volume de autos de infração dos órgãos de fiscalização. Em 2010, a estatal registrou 57 vazamentos, contra 56 ocorrências em 2009. O volume de petróleo e derivados derramados cresceu cerca de 163%, pulando de 1.597 mil barris, em 2009, para 4.201 mil barris espalhados na natureza em 2010, quase o dobro dos 2.400 barris que teriam vazado do poço da Chevron no Campo do Frade (Bacia de Campos), do qual a Petrobras tem 30%.

O óleo vazado pela Petrobras em 2010 foi o maior em pelo menos quatro anos, segundo levantamento do GLOBO com base em seus relatórios de sustentabilidade. O número ficou acima do Limite Máximo Admissível, índice anual usado pela estatal, de 3.895 mil barris. Especialistas dizem que as empresas não estão investindo o suficiente em sistemas de segurança e ressaltam que os desafios são maiores com o pré-sal.

Segundo o Relatório de Sustentabilidade de 2010, o Sistema Petrobras recebeu, em 2010, 21 autos de infração ambientais, que geraram multas de R$80,75 milhões. O número é 131,04% maior em relação a 2009, quando três autos totalizaram R$34,95 milhões. Esses números consideram multas com valores iguais ou superiores a R$1 milhão.

Presidente do IBP: empresas investem muito em prevenção

Segundo a advogada ambientalista Beatriz Paulo de Frontin, falta uma fiscalização mais rigorosa nos pequenos vazamentos, não exatamente em plataformas, mas em oleodutos, refinarias, navios e bases. Beatriz ressalta que, às vezes, esses derramamentos não são nem considerados acidentes, por serem de pequeno porte, ainda que causem grandes danos:

- Por serem pequenos, esses vazamentos não têm muito controle, mas devem ter um impacto ambiental grande. Deveria haver uma fiscalização mais constante para esses pequenos vazamentos e, principalmente, que fossem feitos de forma preventiva.

O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos França de Luca, por sua vez, garante que as petrolíferas estão preparadas para produzir com segurança em águas profundas, como no pré-sal. O executivo destacou que as petrolíferas do mundo todo investem muito não só em novas tecnologias, mas em sistemas de prevenção e contenção de acidentes:

- As indústrias investem muito em prevenção, e em caso de acidente, em sua contenção. É quase uma obsessão, pois os custos financeiros, o impacto negativo de sua imagem, os impactos ambientais, caso aconteça um acidente, são muito grandes.

Segundo De Luca, quando ocorre um acidente, como o da BP no Golfo do México, no ano passado, e agora o da Chevron, na Bacia de Campos, inovações tecnológicas e novos sistemas são incorporados à indústria. As nove maiores petrolíferas mundiais, incluindo Petrobras, que fazem parte da Associação Internacional dos Produtores de Petróleo e Gás (OGP), estão investindo cerca de US$2 bilhões em quatro unidades de um equipamento (capping) desenvolvido e usado para conter o vazamento da BP.

Já o especialista em petróleo Claudio Pinho, autor do livro "Pré-sal: história, doutrina e comentário das leis" (Editora Legal), não acredita que as empresas vêm investindo o suficiente. Lembra que, no caso do pré-sal, há agravantes, pois não foi prevista qualquer reserva de recursos para prevenção e combate a acidentes na exploração:

- Hoje, o conceito de segurança no pós-sal e no pré-sal é igual. Vivemos uma espécie de corrida tecnológica, com os equipamentos e os exames sísmicos sendo desenvolvidos de forma difusa. A questão é que um vazamento só chama atenção quando é concentrado. As multas que a Petrobras recebeu (R$80 milhões em 2010) são representativas.

A Petrobras não comentou em que locais ocorreram os vazamentos. Chevron, ExxonMobil, Shell, BG Group e Repsol não revelam quanto investem em segurança.

- Mas é nítido que o setor terá de investir mais com o aumento de produção do pré-sal. A fiscalização deveria ser mais rígida, com o uso de equipamentos mais sofisticados - comentou o analista Adriano Pires, que considera insuficiente os investimentos em segurança.
Minc vai pedir números de investimentos em prevenção

As empresas poderão ter de divulgar investimentos em prevenção. É o que Carlos Minc, secretário estadual de Ambiente, vai pedir às petroleiras:

- A Chevron será a primeira da lista. Na próxima semana, é a vez de outras empresas. Essas informações são essenciais. Não sabemos se elas estão de fato preparadas quando os vazamentos ocorrem.

Para Fabio Guinancio, diretor da Comtrol Beneficiamento de Resíduos, é preciso investir em pesquisa para ter equipamentos adequados aos diferentes ambientes terrestres e aquáticos:

- Uma questão que se pode apontar como problema é a falta de conhecimento das diferentes regiões aos efeitos do óleo e dos produtos químicos.

Muitos especialistas não sabem dimensionar se o país está preparado para um grande desastre 
ambiental. Para biólogos, faltam equipamentos de segurança em escala nacional. A Petrobras conta com 30 embarcações de grande porte para recolhimento de óleo, 150 mil metros de barreiras de contenção, 200 recolhedores de óleo e 200 mil litros de dispersantes.

- Esses números já incluem as atividades do pré-sal. A empresa tem 10% de defesa ambiental, 13 bases avançadas e 130 embarcações de apoio - diz uma fonte ligada à empresa.

Ainda segundo o Relatório de Sustentabilidade da Petrobras, a estatal registrou alta de 11% em gastos ambientais com produção e operação, passando de R$1,575 bilhão em 2009 para R$1,750 bilhão em 2010. Mas o total com equipamentos e sistemas de controle de poluição caiu de R$197,5 
milhões para R$172,3 milhões - recuo de 12,76%.

- O Brasil vai para campos mais ousados, onde os riscos são maiores. É óbvio que a técnica para alcançar o óleo em maior profundidade e seu sistema de segurança devem ser mais estudados e desenvolvidos - afirma o biólogo David Zee.

Especialistas criticam o pequeno avanço no volume repassado pela Petrobras para universidades em projetos para desenvolvimento de pesquisas. Entre 2009 e 2010, o repasse cresceu apenas 3,4%: de R$500 milhões para R$517 milhões.
Fonte: O Globo

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