Os vazamentos de petróleo no Brasil são mais comuns do que se pensa.
Só a Petrobras, a maior empresa do setor, encerrou o ano passado
poluindo mais e recebendo um grande volume de autos de infração dos
órgãos de fiscalização. Em 2010, a estatal registrou 57 vazamentos,
contra 56 ocorrências em 2009. O volume de petróleo e derivados
derramados cresceu cerca de 163%, pulando de 1.597 mil barris, em 2009,
para 4.201 mil barris espalhados na natureza em 2010, quase o dobro dos
2.400 barris que teriam vazado do poço da Chevron no Campo do Frade
(Bacia de Campos), do qual a Petrobras tem 30%.
O óleo vazado pela Petrobras em 2010 foi o maior em pelo menos quatro
anos, segundo levantamento do GLOBO com base em seus relatórios de
sustentabilidade. O número ficou acima do Limite Máximo Admissível,
índice anual usado pela estatal, de 3.895 mil barris. Especialistas
dizem que as empresas não estão investindo o suficiente em sistemas de
segurança e ressaltam que os desafios são maiores com o pré-sal.
Segundo o Relatório de Sustentabilidade de 2010, o Sistema Petrobras
recebeu, em 2010, 21 autos de infração ambientais, que geraram multas de
R$80,75 milhões. O número é 131,04% maior em relação a 2009, quando
três autos totalizaram R$34,95 milhões. Esses números consideram multas
com valores iguais ou superiores a R$1 milhão.
Presidente do IBP: empresas investem muito em prevenção
Segundo a advogada ambientalista Beatriz Paulo de Frontin, falta uma
fiscalização mais rigorosa nos pequenos vazamentos, não exatamente em
plataformas, mas em oleodutos, refinarias, navios e bases. Beatriz
ressalta que, às vezes, esses derramamentos não são nem considerados
acidentes, por serem de pequeno porte, ainda que causem grandes danos:
- Por serem pequenos, esses vazamentos não têm muito controle, mas
devem ter um impacto ambiental grande. Deveria haver uma fiscalização
mais constante para esses pequenos vazamentos e, principalmente, que
fossem feitos de forma preventiva.
O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos
França de Luca, por sua vez, garante que as petrolíferas estão
preparadas para produzir com segurança em águas profundas, como no
pré-sal. O executivo destacou que as petrolíferas do mundo todo investem
muito não só em novas tecnologias, mas em sistemas de prevenção e
contenção de acidentes:
- As indústrias investem muito em prevenção, e em caso de acidente,
em sua contenção. É quase uma obsessão, pois os custos financeiros, o
impacto negativo de sua imagem, os impactos ambientais, caso aconteça um
acidente, são muito grandes.
Segundo De Luca, quando ocorre um acidente, como o da BP no Golfo do
México, no ano passado, e agora o da Chevron, na Bacia de Campos,
inovações tecnológicas e novos sistemas são incorporados à indústria. As
nove maiores petrolíferas mundiais, incluindo Petrobras, que fazem
parte da Associação Internacional dos Produtores de Petróleo e Gás
(OGP), estão investindo cerca de US$2 bilhões em quatro unidades de um
equipamento (capping) desenvolvido e usado para conter o vazamento da
BP.
Já o especialista em petróleo Claudio Pinho, autor do livro "Pré-sal:
história, doutrina e comentário das leis" (Editora Legal), não acredita
que as empresas vêm investindo o suficiente. Lembra que, no caso do
pré-sal, há agravantes, pois não foi prevista qualquer reserva de
recursos para prevenção e combate a acidentes na exploração:
- Hoje, o conceito de segurança no pós-sal e no pré-sal é igual.
Vivemos uma espécie de corrida tecnológica, com os equipamentos e os
exames sísmicos sendo desenvolvidos de forma difusa. A questão é que um
vazamento só chama atenção quando é concentrado. As multas que a
Petrobras recebeu (R$80 milhões em 2010) são representativas.
A Petrobras não comentou em que locais ocorreram os vazamentos.
Chevron, ExxonMobil, Shell, BG Group e Repsol não revelam quanto
investem em segurança.
- Mas é nítido que o setor terá de investir mais com o aumento de
produção do pré-sal. A fiscalização deveria ser mais rígida, com o uso
de equipamentos mais sofisticados - comentou o analista Adriano Pires,
que considera insuficiente os investimentos em segurança.
Minc vai pedir números de investimentos em prevenção
As empresas poderão ter de divulgar investimentos em prevenção. É o
que Carlos Minc, secretário estadual de Ambiente, vai pedir às
petroleiras:
- A Chevron será a primeira da lista. Na próxima semana, é a vez de
outras empresas. Essas informações são essenciais. Não sabemos se elas
estão de fato preparadas quando os vazamentos ocorrem.
Para Fabio Guinancio, diretor da Comtrol Beneficiamento de Resíduos, é
preciso investir em pesquisa para ter equipamentos adequados aos
diferentes ambientes terrestres e aquáticos:
- Uma questão que se pode apontar como problema é a falta de
conhecimento das diferentes regiões aos efeitos do óleo e dos produtos
químicos.
Muitos especialistas não sabem dimensionar se o país está preparado
para um grande desastre
ambiental. Para biólogos, faltam equipamentos de
segurança em escala nacional. A Petrobras conta com 30 embarcações de
grande porte para recolhimento de óleo, 150 mil metros de barreiras de
contenção, 200 recolhedores de óleo e 200 mil litros de dispersantes.
- Esses números já incluem as atividades do pré-sal. A empresa tem
10% de defesa ambiental, 13 bases avançadas e 130 embarcações de apoio -
diz uma fonte ligada à empresa.
Ainda segundo o Relatório de Sustentabilidade da Petrobras, a estatal
registrou alta de 11% em gastos ambientais com produção e operação,
passando de R$1,575 bilhão em 2009 para R$1,750 bilhão em 2010. Mas o
total com equipamentos e sistemas de controle de poluição caiu de
R$197,5
milhões para R$172,3 milhões - recuo de 12,76%.
- O Brasil vai para campos mais ousados, onde os riscos são maiores. É
óbvio que a técnica para alcançar o óleo em maior profundidade e seu
sistema de segurança devem ser mais estudados e desenvolvidos - afirma o
biólogo David Zee.
Especialistas criticam o pequeno avanço no volume repassado pela
Petrobras para universidades em projetos para desenvolvimento de
pesquisas. Entre 2009 e 2010, o repasse cresceu apenas 3,4%: de R$500
milhões para R$517 milhões.
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