O empresário Marcio Mello prometeu encontrar um segundo pré-sal na Amazônia e na Namíbia. Até agora, só achou gás — e quem disse que ele desistiu?
Márcio Mello, da HRT: o petróleo amazônico ainda não apareceu
|
São Paulo - Uma ideia na cabeça, uma lata de Coca-Cola na mão — foi
desse jeito que, um ano e meio atrás, o geoquímico mineiro Marcio Mello
convenceu gente do mundo inteiro a investir 2,6 bilhões de reais em sua
empresa de exploração de petróleo, a HRT.
Sua ideia: enquanto a concorrência se acotovelava para disputar a
exploração do pré-sal na costa brasileira, havia espaço para enriquecer
achando petróleo em dois lugares bem diferentes — a inóspita Amazônia e a
distante Namíbia, no sudoeste africano.
Para tentar provar que a ideia era viável, Mello, que fez carreira na Petrobras antes
de se tornar empreendedor, lançava mão da latinha de refrigerante. Nas
reuniões com investidores, ele subia na mesa mais próxima e, teatral,
abria sua Coca-Cola. Segundo ele, aquela era a metáfora perfeita para
mostrar o potencial daquilo que apelidou de “pré-sal amazônico”.
O gás que deixa a lata, dizia, é um indício do líquido que está logo
abaixo. Na bacia do rio Solimões, onde a HRT tinha o direito de explorar
uma área de 49 000 quilômetros quadrados, seria parecido.
Bastava perfurar, deixar o gás sair e ganhar bilhões com o petróleo
escondido sob a floresta. Pena, para ele e quem acreditou na metáfora da
Coca-Cola, que, dois anos depois, sua latinha tenha expelido gás, e
mais nada.
O contraste entre o que Mello prometeu nas reuniões com investidores e a
atual situação da HRT é de impressionar. Ele garantiu que, até junho de
2011, faria jorrar 10 000 barris de petróleo por dia da bacia do
Solimões. O “pré-sal amazônico” teria, segundo suas estimativas,
reservas de 2,6 bilhões de barris — volume que ajudaria a transformar a
HRT numa das maiores empresas de óleo e gás do mundo.
Para chegar lá, perfuraria 12 poços na região e teria oito sondas em
funcionamento em dezembro de 2011. Na África, a promessa era explorar
uma reserva de 7 bilhões de barris de petróleo — equivalente ao campo de
Tupi, o maior da bacia de Santos — na Namíbia. Nada disso aconteceu.
A HRT perfurou apenas quatro poços na Amazônia e encontrou petróleo em
somente um deles — mas em profundidade tal que a exploração se mostrou
economicamente inviável. No resto, só achou gás. “Essa região já havia
sido explorada pela Petrobras, que não julgou a extração viável”, diz
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
Revista EXAME
Nenhum comentário:
Postar um comentário